
Os comandantes das duas corporações afirmam que não há nenhum regimento interno que limite o ingresso de integrantes do sexo feminino nas tropas ou mesmo que obrigue os concursos a seremexclusivamente masculinos. Eles até prometem abrir vagas em seus quadros para as meninas. Enquanto socialmente ainda se discute o motivo de não termos mais mulheres nas ruas, a psicologia já aponta as várias vantagens mentais e até físicas de trabalhar com o sexo "frágil".
Aos 40 anos - com carinha de 30 - e avó de um menino de 1 ano, que ganhou de presente de um dos seu três filhos, a soldado Claúdia Maria Moreira Cunha de Souza, não pensa em largar a Polícia Militar tão cedo. Ela é uma das três mulheres do Batalhão da Polícia de Choque do estado, que é composto por mais 227 homens. Porém é a única que vai junto com mais três colegas trabalhar nas ruas de Natal, carregando diariamente pelo menos uma metralhadora. As duas colegas de unidade trabalham no administrativo. "Gosto é da rua. Venho trabalhar com alegria e vontade", disse Claúdia sobre seu trabalho.
Cheia de vaidade, vai para o trabalho com cabelos sempre muito bem arrumados, unha pintada, batom na cor da moda e brincos. Nem parece ser a mesma soldado que já cortou o cabelo igual ao de um homem para ser aceita no Batalhão de Operações Especiais (Bope). É que antes o batalhão operava junto com o BPChoque e tinha essa exigência. "Fiz um curso em 2004 que precisou de novo. Cortei outra vez", reafirmou. A patrulheira minimiza ter perdido os cabelos, pior foi fraturar os três dedos do pé, engessar no dia e tirar no outro sob ameaça de perder o curso.
Cláudia relata que aqui no estado nunca sofreu preconceitos por ser mulher, embora, quando integrou a Força Nacional - apenas os melhores policiais de todo Brasil fazem esse curso - e precisou treinar com o Bope do Rio de Janeiro, tenha percebido que não era bem aceita. "Só aguentaram a gente lá, porque a Força é uma instituição Federal", lembrou. Nas ruas parece que a situação é diferente. "Da forma como nós abordamos não dá muito tempo para alguém ter preconceito comigo", frisou. Na visão da soldado, o olho das ruas enxerga com admiração e aprova a coragem diária de enfrentar as situações mais adversas.
Conquistas ao longo do tempo
A 1º Sargento Vânia Maria Porto, 39 anos, é da primeira turma de soldados com participação de mulheres na PM. Se hoje ainda existe algum preconceito por elas seguirem a carreira policial, na época de Vânia foi ainda pior. O namorado não aceitava e o próprio pai, que era policial, não demonstrava nenhuma vontade que a filha seguisse seus passos. "Antigamente as pessoas não enxergavam bem o policial. Diziam que tinha era policial quem não sabia fazer outra coisa. Mas depois que passei no concurso meu pai me ajudou", salientou.
O setor administrativo do prédio da Companhia Feminina é atualmente seu local de trabalho. Mas Vânia recorda saudosista do tempo que era a única mulher em meio aos 75 homens da Rádio Patrulha. "No começo eles estranharam. Depois foram se acostumando. No fim, foi ótimo. Passei dois anos lá", lembra. Para ela muitas mulheres da PM ainda preferem o serviço burocrático ao trabalho ostensivo, o que acaba diminuindo o número delas nas ruas.

Diariamente saem da tropa feminina duas viaturas mistas, onde apenas o motorista é homem. O destino dos carros são os pontos de apoio das avenidas Roberto Freire e Afonso Pena. Também existem mais duas guarnições no presídio feminino com o colaboração de três soldados. É visível a necessidade de mais mulheres, destaca Edmeiry. "È preciso concurso. São muitas ocorrências envolvendo mulheres, que devem ser abordadas por mulheres", reforça a capitão.
A comandante acredita, baseada nas abordagens que sofre nas ruas, que existe o interesse do sexo feminino em entrar na PM, mas o que falta mesmo é a criação das vagas. A última vez que a instituição abriu espaço para formação de oficiais de ambos os sexos foi em 2005, que também foi o último edital desse tipo publicado. No ano seguinte foi lançado o concurso para soldado sem a inclusão das mulheres. "Em outros estados os concursos abrem para os dois. Não pode haver distinção de sexo", ressaltou.
Muita força física e psicológica

Fernanda enxerga com urgência a necessidade na entrada das soldados na instituição. Como forma de avaliar o comportamento dos Bombeiros na hora de um salvamento, ela já acompanhou alguns resgates. "Principalmente no setor de ambulância. Tem que rasgar roupa, tem gente que não gosta e cobra que isso seja feito por uma mulher. Já teve casos do marido não deixar a esposa receber respiração boca a boca de um bombeiro", lembra a psicóloga que espera muitas aprovações femininas no próximo concurso.
As quatromulheres bombeiros são muito bem vistas pelo tropa, principalmente, pelo oficiais com formação recente que já percebe a importância delas na unidade. Segundo Fernanda, a sensibilidade feminina pode deixar o serviço ainda mais humanizado. "Faz falta mulher aqui dentro", completa a especialista.
Apenas quatro mulheres nos Bombeiros
Se a PM é praticamente um Clube do Bolinha, no Corpo de Bombeiros a situação é bem pior quando assunto é mulher na tropa. São cerca de 165 homens para cada mulher. Nunca houve na corporação um concurso para soldado incluindo as meninas. Há processo seletivo apenas para a formação de oficiais e o último resultou na graduação de apenas uma mulher. As demais inscritas provavelmente não conseguiram passar nas provas físicas ou não quiseram viajar para o Pará, onde acontece o curso.
A 1º Tentente Denise Maria Bezerra de Figueiredo, dona da maior patente feminina dentro do Corpo de Bombeiros, não entrou pela instituição. Ela integrou a turma de soldados PM de 2000 dois anos antes dos Bombeiros se emanciparem da Polícia Militar. Após a separação, Denise prestou concurso para o CFO e passou três anos no Pará sendo preparada para torna-se oficial. Foi a única do Rio Grande do Norte.
Hoje ela toma conta do setor de Operações e lamenta o baixo número de mulheres na unidade. "Espero que as próximas turmas sinalizem com um quadro feminino. O universo dos praças ainda é estritamente masculino", ressalta. Denise não nega que a preparação física é fundamental desde o ingresso até as atividades diárias que a bombeiro precisa atender, mas ressalta que o trabalho é de equipe e não necessita sempre de força.
Antes de ser bombeiro, ela trabalhou no setor financeiro do Natal Shopping e usa o raciocínio lógico que aprendeu nas ações da corporação. "É preciso colocar a peça certa, no lugar certo. Não tem a ver com sexo, mas sim com capacidade. Existem muitos equipamentos técnicos que não precisam de força", resumiu. Além da Tenente, integra a corporação a 2ª Tenente Leila Costa, que atua nos trabalhos externos, a Aspirante Márcia Martine e a 1º Sargento Maria Giuzonete Paulino Gomes, vinculada a secção contra Incêndios da Infraero.
PM não limita ingresso na Força

Já o estado do Ceará determina que a Polícia Militar deve ter no máximo 5% de mulheres no seu efetivo e nem esse percentual foi atingido ainda. "A lei estabelece uma quantidade de vagas para mulheres", disse o comandante Araújo. Segundo o coronel, as meninas que decidirem entrar na PM podem exercer todas as funções administrativas e operacionais. "Estamos precisando principalmente na área operacional", apontou. Não há PMs do sexo feminino na Cavalaria nem na Rocam ( Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas).
Em unidades de elite como o Bope e o BPChoque, são respectivamente 1 e 3 mulheres, mas apenas uma no serviço de rua, a soldado Cláudia. A Companhia Feminina tem um efetivo total de 70, sendo 50 no trabalho ostensivo e o restante burocrático. Em conversas informais com o comandante do Corpo de Bombeiros, Coronel Carlos Kleber Lopes Barbosa, já tinha informado sobre sua vontade de abrir concurso com participação de mulheres no próximo ano. Porém, como a reportagem não conseguiu localizar o Coronel até o fechamento desta edição, não pode publicar um palavra oficial dele.
História

FONTE: Diário de Natal